quinta-feira, 13 de junho de 2013

Reflecções inuteis.


Sem dinheiro, sem apoio, sozinho, em estado de meditação (homicida) permanente, sobrevivendo dia a dia usando habilidades secretas que todos desconhecem que possuo. Sobrevivo com as recompensas e prémio da arena, luto com a eficacia e sangue frio que sempre me foram caracteristicos em batalha. Sobrevivo contra todas as probabilidades e desafios, na esperança de um dia melhor.
Sou quase feliz, apesar de tudo. Ou, reformulando, sou moderadamente feliz, um estoico estado de quase neutralidade, de desapego, de descontente contentamento com circunstancias que o tempo irá resolver, com ou sem a minha intervenção. O tempo resolverá sozinho os meus problemas. Mas cabe a mim assegurar que os desejos que possuo são ou não cumpridos.
Desejos e imagens felizes imaginadas, e sensação de que estou a tomar a escolha errada no meu exilio auto-imposto.
Há uma irreverente ironia na forma como as coisas têm acontecido na minha vida recentemente, quase como se uma qualquer força externa se divertisse a colocar no meu caminho situações e pessoas que me fazem reconsiderar as minhas decisões.
Quando a Jess acabou comigo, desejei solidão e paz.
Apareceu a Sun, arrancou-me da solidão, fez-me sentir vivo e desejado, curou, ou pelo menos acelerou a cura do meu coração. Fez-me perceber que o fim da minha relação com a Jess não era de todo o fim da minha vida, mas apenas o fecho de um capitulo.
Tirei uns dias, isolei-me do mundo durante uns três dias, passados em meditação, dos quais resultou uma escolha, uma decisão minha e um caminho a seguir.
Sentia-me bem com ela. Começara a gostar dela, a sentir pequenas pontadas de saudade quando estava longe dela.
Saí do isolamento, com a minha escolha tomada e pronto a agir baseado nela.
Havia escolhido manter-me com ela, dar a ambos quer a liberdade quer o melhor daquilo que tinhamos até aí. Tentar transformar isso em algo belo.
Ela escolheu não ficar comigo. Não me interessava a razão, interessava-me apenas o facto de a escoolha dela invalidar a minha.
Voltei ao isolamento, ao meu casulo, e resolvi que não iria preocupar-me. Que iria simplesmente aproveitar o que tenho e selar todo o possivel envolvimento com outros, evitando assim causar mais sofrimento, esmo quando eu não sou pessoa que goste de estar só. Tomei a decisão devido a não querer que a minha instabilidade actual prejudique ou magoe alguem.
Voltei a passar tempo no chat.
Conversas de circunstancia, ocasional desabafo quando a dor aperta, mas nada mais. Era isso que pretendia. Estava a resultar. Especialmente por eu saber uqe a maioria não iria reparar em mim, e os que o fazem não estão interessados em chegar perto de mim.
Estava na situação ideal. Exposto o suficiente para que ninguem repare que estou o mais só que alguma vez me senti, que me estou a fechar em mim novamente. Expus-me o suficiente para que ninguem pudesse ficar preocupado.
Escondido do mundo, sempre plenamente à vista.
Estava a funcionar, até que um qualquer utilizador reparou em mim pelas minhas musicas e se tentou aproximar de mim por isso.
Estou tão habituado à imagem que outros têm de mim que penso que me esqueci que essa imagem não é real, apenas o resultado de opções e decisões passadas. Um passado longinquo já, mas cujos efeitos jamais serão esquecidos.
Mas desta vez, não fiz nada de especial.
Não fiz o comuns avisos sobre mim (toda a gente os ignora de qualquer forma). Não fiz nada. Apenas respondi.
E mais uma vez dou por mim a pensar que a decisão pode estar errada...
Mas como de costume, sempre que encontro alguem assim, há sempre algo que é demasiado bom para ser verdade. Continuo ainda com essa sensação.
Sempre que descubro alguem de que me apercebo poder vir a gostar, algo impede isso. Há sempre um minusculo pormenor que impede que tal aconteça. Estou quase curioso sobre qual será agora.
Sim, conheci alguém demasiado bom para existir.
Conheci alguem bom, com bom gosto, belo, inteligente e capaz de me fazer sorrir só por estar.
Pergunto-me agora o que fazer? Mostrar interesse? Já dei a entender. Merda, se eu meto conversa com alguem é porque acho que vale a pena.
Há muito que perdi a paciencia para conquistas de uma noite e para provocar sentimentos que não pretendo retribuir.
Estou cansado.
Se alguem achasse que valho a pena, tentaria quebrar as minhas barreiras. Acho que ela ainda nem deu pela sua existencia...
Saber que alguém se preocupa...
Saber que alguém espera por uns segundos da minha atenção apenas porque gosta da companhia...
Ah! como eu gostava de saber que tal é verdade...
Ah, como eu desejo partilhar o meu amor e carinho e paixão e desejo...
Não, Chainer. Sabes bem que a escolha certa não é a escolha fácil e vais ter que aprender a viver com ela.
A escolha certa... Depois do meu passado, depois daquilo que nos ultimos meses confirmei... a escolha é certa, não para a minha felicidade, mas para a minha (pouca) sanidade.
Não irei suportar o peso na consciencia de saber que mais alguém ficou marcado para a vida com uma (ou mais) cicatrizes mentai, ou pior.
Não me parece que alguém concorde comigo neste ponto, à excepção de todos os que desejam não ter alguma vez cruzado o meu caminho. Aqueles com quem falei sobre o caso acham a minha escolha estranha, incomum, fora da minha forma de ser.
Mas não ouvi qualquer duvida sobre os seus efeitos. Era perceptivel, no entanto, espelhado na expressão de cada um, a mesma pergunta obvia: “Não podias ter decidido tudo isso antes de me conheceres?”
Podia. Devia talvez. Mas não posso mudar o passado.
Mudei, ou gosto de acreditar que sim. É precisamente por acreditar que mudei que me recuso a fazer alguem passaar novamente pelo sofrimento que anteriormente causei.
Sim, no fundo sempre guardei esta culpa dentro de mim, acho que desde a morte do Duarte que assim o é. Todos os outros e outras pelo meio adicionaram à minha culpa. A Jess era a minha derradeira tentativa de redenção e esta foi-me negada.
Se houver absolvição, esta terá que partir de mim, e eu não consigo perdoar-me. Resta-me a solidão, até ao dia em que finalmente me consiga perdoar, coisa que duvido que algum dia aconteça.
E no entanto uma parte de mim culpa-me pela solidão, como se apenas pudesse ser feliz ao lado de alguém. Culpa-me e faz-me sentir mal pela escolha, mostra-me todas as faces e expressões de desejo e faz questão de que eu me aperceba de todos os sinais, obvios ou não, de que qualquer um possa sentir-se minimamente atraído por mim. É torturante, na verdade...
Torturante pensar que poderia talvez estar com alguém, podia estar a fazer alguém feliz... Podia estar eu proprio feliz...
É tarde para devaneios e desabafos. Preciso de me preparar. Mais uma vez, a minha performance hoje e amanhã definem o que me vai acontecer na proxima semana. Ganho, e vivo bem mais uma semana. Perco e terei de me desenrascar com quase nada...
Adoro esta sensação. Tudo nas minhas mãos. Tudo em jogo.
Está na hora de acabar com a oposição numa Explosão de Genialidade.


Recomeçar.


Está no trabalho, mas não consegue concentrar-se. Aquela mensagem ainda o atormenta.
Que poderiam querer dele? Que tem ele de tão especial para que esta situação esteja a ocorrer consigo?
Não é rico, não tem acessos ou informações e as suas habilidades são normalmente menospresadas como excentricidade sua. A sua posição na empresa não é alta o suficiente para o chantagearem ou ameaçarem.
Não encontra, por mais que procure, um motivo para esta situação e isso deixa-o perdido.
Não consegue concentrar-se, mas felizmente deixou tudo bastante adiantado ontem.
As horas passam lentamente, em contagem decrescente para o final da sua segurança.
Mas e o miudo? Estará seguro? Estará bem?
Acaba por começar a ler relatorios, eentualmente embrenhando-se na analise em mãos, mas do fundo da sua mente continua a sentir o desespero de não saber como resoler esta situação.
Como se não bastasse, sente-se hiperactivo. Não consegue parar quieto. Não devia ter tomado os 300mg de venlafaxina de manhã.
A sua hora de refeição é passada na sala, lendo um livro. Não vai sair. O medo toma conta dele, não por ele, mas pelo pequeno.
Quando e como chegariam as instruções?
A noite passa calma e sem acontecimentos estranhos.
Acorda cedo, na cama, umas 8:30 a manhã, o hábito de colocar o despertador para aquela hora apanhado recentemente com a sua companheira mais recente.
Desliga o despertador e olha para o lado, a sua ex-noiva adormecida na outra ponta da cama, face virada para ele, completamente inconsciente de que ele a observa.
Levanta-se com um suspiro e veste a primeira muda de roupa que encontra.
Toma um comprimido de venlafaxina e faz café.
É cedo. Demasiado cedo para estar acordado e entregue aos seus pensamentos.
Coloca uma das suas listas de musica, sem sequer ver em qual, reprodução aleatória, e pega no livro que anda a ler. Lasher, de Anne Rice. Lê umas cinco paginas, imerso naquele mundo fantastico, quando a sua atenção é presa por uma frase da musica: “Its in the water baby, it's in the special way we fuck.”
Saudade. Faz uma semana que resolveu, talvez erradamente, devolver as chaves de casa daquela que ele gostava que fosse o seu futuro.
Fica a ponderar a ultima semana.
Se não tivesse entregue as chaves, no domingo passado teria seguido um caminho diferente, e talvez aquele rapto ao tivesse acontecido e o seu filho não estaria a ser ameaçado e ele não seria escravo da vontade de um mestre invisivel com uma agenda secreta.
Durante a semana que passou viu-a apenas durante umas duas horas, no dia anterior. Ela está zangada, ou chateada, ou desiludida. Não consegue perceber qual, mas sente a sua distancia, a sua agressividade nas palavras, sempre escolhidas de forma a não deixar transparecer a mesma, mas ele consegue senti-la.
Talvez tenha feito a escolha errada, mas fê-la pelos motivos certos. Tanta coisa está a acontecer ao mesmo tempo.
A sua vida está do avesso e os esforços dele para a concertar não estão a dar grandes frutos.
Vai ter com ela ao trabalho dela, bebe um café sentado na esplanada. Fuma e lê.
Nem um toque. Tenta confirmar o convite para jantar no dia seguinte, e recebe uma gargalhada sarcastica de volta. Recusado.
“Que esperavas? Fizeste merda. Magoaste-a. Mereces a frieza e a recusa.”
Esgota o tempo até entrar ao trabalho a ler.
Vai despedir-se dela. Palavras, mãos dadas. Não pode beija-la, está no local de trabalho dela.
Ele acaricia suavemente a face dela, desde o cabelo até ao queixo que segura entre o polegar e o indicador. Um sorriso doce espalhado na face dela.
Tem que ir. Há trabalho a fazer.
Ridiculamente sopra-lhe um beijo antes de atravessar a porta.
Coloca os oculos de sol, acende um cigarro e dirige-se ao comboio. Daqui a 11 horas estará novamente em casa, se não houver precalços ou surpresas pelo caminho.
Sente-se triste, mesmo sob o efeito de anti-depressivos. Triste por continuar a magoar pessoas, apesar de não o suportar mais. Triste por cada vez mais chegar à conclusão que deveria ficar simplesmente sozinho, que essa é a escolha certa para que deixe de se preocupar se consegue evitar causar mais estragos. Já tem sangue suficiente as mãos...
Chega ao trabalho e força-se a esquecer tudo o que se passa lá fora. É demasiado importante para que se permita cometer erros. E o seu emprego é aquilo uqe lhe permite manter-se na capital. Sem ele, seria forçado a regressar para “os confins do inferno” como ele costuma dizer sem sentir.
Esquece e trabalha... deixa que o trabalho seja a sua salvação...”
Sozinho, dias depois de ela ter saido de casa, a vida dele ainda está em recuperação. A chantagem não esquecida, colocada de lado pois as instruções haviam sido entregues de forma pacifica, uma simples carta datilografada dentro de um envelope branco sem nada escrito, na sua caixa de correio, o poder do agressor mais que provado naqueles dois encontros. Afinal, há algo a oferecer. Ele pergunta-se o porquê de todo o drama. Tivessem apresentado a proposta e ele teria aceitado só pelo desafio da questão. Não, há outras coisas a tratar de momento.
Tem toda uma casa para transformar no seu refugio, no seu palácio pessoal. Tem a si mesmo para reerguer e curar, tem decisões dificeis a tomar.
Por tudo, depois de tudo, este deve ser o ponto mais complicado da sua vida.
E ele nunca se sentiu tão vivo antes.
O desafio, a ameaça à sua sobrevivencia, o viver no limiar do precipicio.
Sente-se vivo, e cheio de energia, e cheio de raiva que precisa ser liberta.
“O primeiro dia do resto da tua vida”. Por mais abusada que a cliché frase seja, a sua verdade inerente é inegavel. É o primeiro dos restantes. É hora de mudar de rumo.
“Vive. Pessoas fracas vingam-se, pessoas fortes perdoam, pessoas inteligentes ignoram. Sê tu, ignora”.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Hoje

Hoje não me sinto triste.
Hoje não me sinto isolado.
Hoje não me sinto lixo.
Hoje não me sinto um demonio que vai acabar com a vida de quem toca.
Hoje não sinto raiva, nem odio, nem dor, nem vazio.
Hoje não me sinto preso.
Hoje não odeio a minha liberdade.
Hoje não existe uma lagrima ao olhar o vazio da casa.
Hoje não acordei com desejo de abraçar alguém que não o quer.
Hoje não pensei na solidão de chegar sozinho a uma casa que mais ninguém espera.
Hoje não fugi das pessoas que me pareciam alegres.
Hoje não vou lutar contra o sono até à exaustão com receio de ter pesadelos.
Hoje não vou passar horas às voltas na cama enquanto vejo as horas a cada cinco minutos à espera de um sono que não vem.
Hoje vou adormecer embalado pelas tuas musicas e pela tua voz, encantado a um sono renovador para que amanhã o dia possa ser melhor que hoje.
Hoje vou adormecer a pensar em amanhã em vez de em ontem.
Hoje vou impedir-me de estar miserável para que amanhã me possas mostrar que posso ser feliz.