domingo, 7 de junho de 2015

Sonhos etereos

Drak
07/06/2015
Domingo. Retorno a casa depois de um mero fim de semana fora. Há já planos para a noite. Não estarei sozinho, apenas só. A solidão e a sua conhecida e melancólica carícia me envolvem, me levam embalado num sono leve e inconstante, melodias de destruição servem de canção de embalar, os graves poderosos a pulsar pelo meu corpo. Vejo fugaz sua imagem, fugidia aos olhos da minha mente, sempre no limiar da minha ensonada e distraída visão interna.
"Que fazes aqui?"
A resposta é uma bela gargalhada de escárnio e nova fuga para longe da minha visão mas não do meu corpo.
Sinto-a a respirar o perfume do meu pescoço e ouço o murmúrio no meu ouvido.
"Estou porque me queres."
"Porque eu quero ou porque tu queres?"
"Ambos?"
"Ha em tua fuga algum simbolismo.De mim, de ti? Que temes?"
"Magoa."
"Não temo."
"Como?"
"Um dia, talvez amanhã, talvez daqui a anos, irei encontrar-te, abraçar-te, e nesses segundos tudo terá valido a pena. Até lá tenho a vida, a passagem dos segundos, o meu livro e o meu vinho."
"Precisas de mim?"
"Não, nem por isso."
"Mas...?"
"Mas quero-te."
"Não faz sentido."
"É isso que o torna em amor. O amor não faz sentido. O amor é ele mesmo o sentido."
"Quem és tu, belo sonhador?"
"Sou velha alma em corpo de menino, deslumbrado pela maravilhosa vida neste recanto do universo. Sou pó de estrela, sou o universo a olhar para si mesmo espantado."
"És estranho."
"Estranho é interessante. Tu és estranha."
"Estranha?"
"Sim. Intrigas-me. Desde o primeiro segundo. Deixas em mim o desejo de mergulhar em teus olhos e voar na tua alma e saborear as tuas memorias e de te entregar uma chave do meu mundo."
"Tanta coisa... gostava que o fizesses."
"Eu também..."
Calo-me, entregue a um silencio repleto de pensamento. Deslizasse para a minha frente e beijas-me as pálpebras. Fecho os olhos e ainda te vejo.
"Se não fosses tão intrigante, não importaria. E porque o és entrego-me ao ciclo do passado e esqueço que já não sou ele. E com receio de magoar não me manifesto. Olho-te pelo canto do olho, sentada contra a parede, esguias e apeteciveis pernas estendidas sobre o sofá, rainha da tua solidão, e resolvo nada dizer. Olho, e compreendo o silencio. E no meu silêncio espero que não vejas o quanto te queria dizer um 'estou aqui'. Mas que te importaria isso? E calado bebo a vodka que me aconchega a quase magoa do desejo de ti, dos teus olhos e da tua alma."
O autocarro para e desperto para longe de ti. Fumo e tento em vão não pensar, combato o desejo de te falar. Eu não faço sentido...

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