quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Anjos demoníacos

Borboleta libertina, malévola atracção a que despertas, destruidora visão que minha inquieta paz atormenta e meus desejos acorda e minha vontade contraria... Que te leva a fazer-me querer trair votos que criei para proteger outros do que sou, quando nada de mim queres? Nada há de interesse aqui... nada recordo já dessa sombra de algo que um dia fui, e não encontro propósito ou sentido no que resta. Queria perguntar-te porquê. Mas por mais que me torture, não encontro motivo para tal, e acabo por silenciar a minha voz e limitar-me a inventar e imaginar cenários sem nexo, vilã imaginação a minha, que me oferece sem eu pedir ilusões do teu calor e do sabor dos teus lábios, forçando-me a quase sentir essas idílicas possibilidades, queimando ainda mais forte a tua imagem nos olhos da minha alma. Odeio-o, sabias? Odeio não te odiar, odeio pensar, odeio imaginar. No fundo, é tudo ilusão... Nunca pensei desejar tanto que uma ilusão fosse real.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Pedaços de Alma

Olho para os milhares de pedaços de uma mente quebrada vezes sem conta, peças soltas do puzzle que um dia foi um ser humano, ao qual só restam sonhos destroçados, agonia e uma folha de papel, perdido na embriaguês da culpa e do desespero.
Nada resta do antigo poeta sonhador, nada de belo ou bom existe ainda cá dentro. Destilado o fel que brota da minha alma, exorciso demonios num papel, em inutil tentativa de colar os pedaços de algo que outrora foi bom, perdido ao criar ilusões que deformam a minha percepção de mim e do mundo.
Não sei o que sou, não sei o que quero, não consigo distinguir as memorias reais dos trances dementes em que algo que não sou eu toma conta de mim e violentamente me possui, acto no qual me deixo levar pelo masoquismo e tentativa de fuga aos pedaços deste coração demasiado magoado para voltar a sentir algo novo, incansavel na sua sede de amor, a mais impura forma de gostar, e renegando aqueles que estão dispostos a arriscar a vida na esperança de que um dia um farrapo de consciencia daquilo que outrora fui possa vir a ser alguém, mesmo quando não há em mim certezas do que sou, quando não resta um pouco de talento nas minhas veias dissecadas por sucessivas mutilações a que me sujeito em momentos em que a dor se torna demasiado insuportável e tenho que exteriorizar tudo o que me atormenta, apesar da frágil aparencia de que tudo está bem.
Sei! Sei que não sou nada e há muito que perdi a esperança de voltar a ser algo...

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O fim do Inicio

Restava-lhe a lealdade ao seu principe regente, e o rigor no cumprimento da missão, e as tarefas enfadonhas de burocracia que o asilo necessitava todas as noites. Estava finalmente à beira do abismo. E havia dado momentaneamente um passo em frente.
Ainda que estivessem a começar a habituar-se a trabalhar juntos, os protegidos de Weiss estavam longe de confiar uns nos outros. E essa noite, essa confiança havia sido ainda mais abalada.
Incumbidos por Crow de resgatar três joias que haviam sido roubadas, e cuja protecção era imperativa, separados em pares e forçados a trabalhar em frentes separadas, foram levados a enfrentar alguns desafios. Para Marcos, a perda de Arabella fora um golpe duro, quase fatal.
A paranoia de estar no centro do iminente ataque dos Escarlates a Nosgoth, a dor, a raiva, o tedio da eternidade. O conjunto de tudo colocara Marcos num estado explosivo. E apenas Edward foi testemunha do macabro sorriso no rosto de Marcos, do medo reflectido nas faces dos bandidos. E, pior que tudo, do seu olhar demoniaco fixo no seu, penetrando até as sombras que rodeavam Edward, um esgar de profundo ódio.
Edward conseguiu apanhar ambas as joias, sob o sorriso e o esgar de Marcos, quando sentiu o seu companheiro a virar o seu poder contra si. Sentiu as joias a quase serem arrancadas pela força da mente de Marcos das suas mãos, tentando encontrar um forma rapida de ultrapassar as chamas infernais que Marcos colocara na unica saída da sala subterranea.
Felizmente Marcos recuperara a tempo o controlo de si mesmo, causando com que as chamas e as sombras infernais por si controladas se dissipassem, permitindo a Edward sair da sala rapidamente, sem olhar para trás e ver o que aconteceram.
Mas Marcos sabia o que havia acontecido. Perdera de novo o controlo da sua insanidade, os seus demonios internos subindo acima e tomando o controlo, a sua mente temporariamente perdida.
Foram alguns momentos apenas, mas e se tivesse sido mais tempo? Edward poderia ter morrido às suas mãos, e ele teria a eternidade para se arrepender de tal.
Não podia dar-se ao luxo de perder o controlo, não quando isso implicava colocar em risco as vidas daqueles que lhe eram minimamente próximos. Precisava de uma solução, de um conselho, de algo que lhe permitisse controlar aquela parte destrutiva de si.
Precisava daquele que o criou...