Luis chega a casa, liga a aparelhagem e coloca um CD de Chopin a tocar. Enche um copo de absinto e liga para pedir uma pizza. Foi mais um dia infrutifero a perseguir fantasmas. A casa vazia ecoa os acordes da musica, demasiado alta para a hora já tardia. Quase uma da manhã. Ele costumava rir-se dos filmes de detectives, até se ter tornado no cliché neles representado. A obsessão pelo trabalho fê-lo perder a mulher, cansada de quatro anos de telefonemas a avisar que não ia jantar, chegadas tardias e saídas a meio da noite para pensar num caso, o unico em que trabalhou no ultimos quatro anos, o unico em que ainda trabalha. É detective da brigada de narcóticos. Anda atrás do lider de um grupo que opera em Lisboa. Já conseguiu prender membros do grupo, mas a interrogação destes nunca leva a lado nenhum. Trabalham sob ordens de alguém a quem chamam de General Fantasma, apelidam-se de Exercito Fantasma. Depositam confiança no seu lider, mas todos dizem não fazerem ideia de quem seja. As operações deles são planeadas ao pormenor, têm agentes pagos em diversas esquadras que os avisam de rusgas e pistas, e que, ao conseguir detectar um deles, é como se dois novos surgissem. Luis sente-se impotente. 20 anos de carreira, e nunca encontrou nada semelhante. A cada passo em frente que Luis dá, é como se o General desse 5 em direcções diferentes. Luis é obsessivo-compulsivo. Puzzles são o que o move, e este caso é o maior puzzle que alguma vez encontrou. Um puzzle que lhe custou o casamento.
Ouve três batidas na porta. Pega numa nota e abre. O rapaz de entregas espera à entrada. Luis recebe as pizzas e entrega a nota.
- Está pago, meu senhor.
- Pago? Por quem?
- Alguém pagou em dinheiro, e pediu para lhe entregar isto.
- Onde?
- À entrada do prédio.
- Mostre-me o que deveria entregar.
O rapaz entrega-lhe um envelope selado sem nada escrito.
- Obrigado pela entrega então. Bom trabalho.
Entrega uma nota de 10 ao rapaz, como gorgeta, pega na pizza e no envelope e fecha a porta. Está intrigado. Ignora a pizza, abandonada em cima da mesa de centro da sala, e abre o envelope. Dentro encontra uma folha A4, impressa a computador.
"Quero falar consigo. Estou a porta do seu prédio. Abra quando ler isto e deixe-me subir. O General Fantasma."
Luis fica estupefacto. Como é possivel? Não quer acreditar. Aquele que ele persegue há anos está a querer falar consigo? Está a espera a porta do prédio? Pagou ao rapaz das pizzas para entregar o envelope? Que raios se passa aqui?
Chega ao intercomunicador que dá para a entrada do prédio, liga-o e pergunta:
- General? Está aí?
Sente-se quase estupido ao fazer isto, até ouvir a resposta seca vinda do auscultador.
- Estou. Abra. Deixe-me subir. Temos coisas a falar.
- É mesmo você?
- Você não sabe nada a meu respeito, Detective. Eu digo que sim. Você terá que acreditar na minha palavra. Posso subir? É do seu total interesse esta conversa.
Luis pára estupefacto, demorando quase um minuto a responder.
- Suba.
Luis abre a porta de entrada, abre a porta do apartamento e senta-se na poltrona, de costas para a porta, a pizza ainda fechada na mesa a sua frente, o copo de absinto a meio. A sua mente dispara em inumeros pensamentos, perdido nas implicações do que acaba de se passar.
A espera é curta, uns dois minutos no máximo até que ouve três toques secos na porta entreaberta.
- Entre.
A entrada do apartamento dá directamente para a sala de estar. Luis está de costas para a mesma, sentado numa poltrona de pele, fumando um cigarro, enquanto bebe pequenos goles do absinto. Alcool foi algo que apenas começou a tomar depois da separação. Ajuda-o a lidar com a falta da esposa, com um caso que parece impossivel de resolver, com o fim da felicidade que em tempos teve.
O General entra, senta-se no sofá em frente de Luis, e espera uma reacção do seu anfitrião.
A surpresa no olhar de Luis é evidente. O homem a sua frente está nos seus 20 e poucos anos, 25 ou 26 no máximo. Veste completamente de preto, botas de cabedal de biqueira de aço, jeans pretos, blusa justissima, delineando o traço do seu corpo por baixo do casaco de cabedal até abaixo dos joelhos, capuz do mesmo enfiado na cabeça, tapando a visão da sua cara.
O General tira o capuz, revelando cabelos castanhos pelos ombros, olhos castanhos, uma face equilibrada, bela, e um olhar incisivo que parece perscutar os recantos secretos da mente de Luis. Este sente-se incomodado com tal olhar, apesar de tentar não o revelar.
- Boa noite, Detective. Como está?
- Estou vivo. Você... quem é você?
- Eu? Eu sou quem o detective procura há anos sem sucesso. Quero falar consigo.
- Porquê? Porquê procurar-me em pessoa? Eu podia prendê-lo agora.
- Você sabe tão bem quanto eu que não o pode fazer, Detective. Precisa de provas que não tem. Você é um bom detective, mas eu não sou o criminoso tipico a que está habituado. Já agora, ligou um gravador? Eu tê-lo-ia feito, no seu lugar.
- Talvez.
- Optimo. Inútil, mas astuto.
- Inútil?
- Meu caro, eu disse-lhe ainda agora. É algo que eu faria. Obvio que vim preparado para tal.
- Como assim?
- Tenho algo que impede gravações de som ao meu redor. Tecnologia é a minha grande paixão, Detective. Crio-a por prazer, por necessidade, por aborrecimento. É-me bastante util nas minhas operações. Tanto quanto os meus colaboradores.
- Que faz você aqui? Porquê vir falar comigo em pessoa? Expor-se fisicamente? Não encaixa no seu perfil.
- Diga-me uma coisa, Detective. Há um mês, quando estava no seu carro à noite, a fazer vigilancia nas docas, no dia em que quase conseguiu apreender um dos meus carregamentos. Lembra-se dessa noite?
- Lembro. O barco estava vazio, a denuncia foi falsa.
- Mas houve uma denuncia.
- Houve.
- Bem, lembra-se de alguém lhe ter pedido lume nessa noite? Um jovem de aspecto gótico, de capuz? Você não lhe viu a cara...
- Você?
- Claro, Detective.
O jovem mete a mão no bolso interno do casaco, tira um anel de ouro com um rubi, e coloca-o em cima da mesa.
- Não sou grande fã de absinto. Tem algo mais, Detective?
Luis está como que enfeitiçado, olhando fixamente o anel. Grosso, a pedra quase do tamanho da unha do seu indicador. Pertence, ou pertencia, a um dos seus informadores, alguém que Luis conhecia há anos, com quem trabalhou inumeras vezes. A alcunha do homem era Mocho. Luis havia-lhe pedido que tentasse recolher informação sobre o General Fantasma.
- Detective? Tem algo além de absinto?
A repetição arranca Luis dos seus pensamentos, ainda algo atordoado. Aponta para um armario ao lado da televisao.
- O que há está ali. Presumo que a selecção ainda seja alguma. Como raios tem você o anel do Mocho?
O General levanta-se em silencio, abre o armario indicado e serve-se de um copo de vodka.
- Eu não gosto de matar pessoas, sabe Detective? Sempre considerei a morte uma libertação das dores da vida. Mas eu preciso de sobreviver, Detective. O Mocho morreu, e o sangue dele mancha as mãos de ambos. As minhas, pois foi a minha corrente que lhe tirou a vida. As suas, pois foi você que o convenceu a tentar infiltrar o meu exercito.
- O Mocho desapareceu há quase um mês. Ele está morto? O Mocho tinha um filho, e as suas mãos ele ficou orfão.
- Não, Detective, às nossas. E o miudo tem o futuro assegurado. O Mocho e eu garantimos isso antes de eu o matar. Fi-lo abrir uma conta em nome do miudo. Depositei 2 milhões lá. Ele terá acesso quando fizer 18 anos.
- Mas...?
- Mas o quê? O Mocho escolheu o destino dele, Detective. No momento em que me traiu. Mas o miudo dele é inocente, não tem que pagar pelos erros do pai. Sempre soube que ele era seu informador. Dei-lhe a oportunidade de provar as suas lealdades. Contei-lhe daquela noite, e eu mesmo me certifiquei da traição dele. Por isso estava lá, a pedir-lhe lume. Por falar em lume, posso fumar?
Mais uma vez, Luis é tomado de surpresa pela pergunta. O seu interlocutor demonstra uma frieza inumana as suas palavras, no entanto, este respeito, esta forma educada de o tratar surpreendem-no, deixam Luis confuso sobre a pessoa a sua frente.
- Esteja à vontade.
- Lume por favor. O meu resolveu deixar de funcionar há algumas horas atrás e eu ainda não tive tempo ou oportunidade para comprar um novo.
Luis estende-lhe o isqueiro. Um Zippo em ouro, oferecido pela sua ex-mulher quando fizeram 10 anos de casados.
- Obrigado, Detective. Posso tratá-lo por Luis?
- Pode, se eu puder tratá-lo por algo mais que General.
- Jace, ao seu dispor.
- Jace? Alcunha?
- Mais ou menos. Não vou obviamente dar-lhe o meu nome real. Jace serve. Alguns amigos usam-no. Quer ser meu amigo, Luis?
- Seu amigo? Perdi a minha mulher por sua causa.
- Não, Luis, perdeu a sua mulher graças à sua obsessão. A culpa de tal é sua, não minha.
- Você sabe demais sobre mim.
- Meu caro, é preciso manter os amigos perto e os inimigos ainda mais perto se se quer sobreviver como eu. Acha mesmo que eu não sabia que me investiga há quatro anos?
- Seria ingénuo da minha parte pensar o contrário. Especialmente agora que sei que já o encontrei antes, acho que mais que uma vez.
- Já nos cruzamos varias vezes, apesar de pouco ou nada termos falado.
- Pois...
Um silêncio abate-se sobre ambos, deixando-os perdidos em pensamentos secretos.
- Você conhece-me. Sabe que ando atrás de si. Observou-me durante sabe-se lá quanto tempo sem nunca se revelar. Porquê agora? Porquê o risco? Nunca falou com o meu antecessor. Pior, tenho a certeza que ele morreu as suas ordens.
- Não. Não foi as minhas ordens. Foi as minhas mãos. E digo-lhe, não gostei de o fazer. Não gostaria de ter que fazer o mesmo consigo, Luis.
- Você já matou demasiada gente.
- Verdade. E cada morte me pesa. Vejo-os a todos a cada noite, quando tiro a mascara e me permito ser eu mesmo, quando a cidade adormece e eu sofro insonias madrugada dentro. Mas essa é a minha dor, a minha vida. Odeio matar, mas as vezes não me resta escolha.
Jace ainda tem o isqueiro de Luis na mão. Tira uma cigarreira do bolso, abre-a. Dentro há cerca de uma dezena de cigarros enrolados em papel de arroz, filtro de cartão. Luis repara. Charros. Feitos de antemão, prontos a acender quando necessario.
- Quer um, Luis?
- Não devia.
- Oh! Poupe-me a treta do agente da lei. Pegue um e cale-se. Ambos sabemos que estar sobrio é doloroso, ou não teria começado a beber absinto assim que chegou a casa.
- Você controla as entradas de cocaina, heroina, ecstasy... e fuma ganzas? Tanto quanto sei, vocês nem têm negocio com tal.
- Mariajuana. Não a vendo, não a compro. Não uso mais nada há anos. Esta sou eu que a crio. Não a vendo. Fumo-a. Partilho com quem precisa e merece. Tire um. Não se preocupe, tenho quem possa livra-lo de qualquer possivel teste de rastreio.
Apesar de demorar uns segundos, Luis acaba por aceitar. Ambos acendem o seu próprio charro. É Luis quem quebra o silencio depois de quatro longos bafos.
- Jace, chega de rodeios. Que pretende de mim?
As bebidas estão no fim. Jace levanta-se e vai buscar ao armario ambas as garrafas, reenche os copos, demorando longos momentos na operação enquanto termina o seu charro. Acende outro e deixa um em cima da mesa para Luis.
- Pensava que era suposto dividir com quem se está o charro que se acende.
- Meh... é do mesmo produto, tem a mesma quantidade. Não vale a pena estar a rodar. Aprecie. É muito boa. Disto vocês não apreendem.
Um sorriso cruza o rosto de Luis. Ele nem sabe o porquê de estar a fumar charros com esta estranha personagem. Ele sabe que o deveria prender, chamar reforços, revistá-lo. Tem um motivo que o pode colocar atrás das grades. Posso com intuito de venda seria possivel de alegar, mas a quantidade é infima. Luis sabe que é inutil. Pena suspensa e uma multa que alguém que, por descargo de consciencia, deposita dois milhoes de euros, vai obviamente pagar.
Jace quebra o silêncio:
- Sabe, Luis, Al Capone foi preso por fuga aos impostos.
- Eu sei. Mas... você não é ele.
- Não, não sou e isto não é a America.
Uma nova pausa prolongada enquanto fumam. Como detective de narcoticos e como pessoa que perdeu a inocencia há muito, Luis está habituado a fumar disto. Até gosta.
Sente-se distante dos desgostos e problemas, longe da solidão, longe do desesperante jogo de pistas e falhas que marcou os ultimos anos de perseguição aquele que consigo agora partilha esta optima erva. A ironia da situação não lhe passa despercebida. Sente-se... quimicamente feliz, e felicidade, mesmo quimicamente induzida, é algo que ele mal recorda. O alcool apaga a dor do falhanço, mas não faz mais que isso. Esta substancia afastou-o da dor, permitindo-lhe pensar calmamente sobre tudo. Mas Jace rapidamente quebra essa falsa paz.
- Tenho algo a oferecer-lhe, Luis...
- Como assim?
- Luis, este caso dura há sete anos pelas vossas contas. Oito, pelas minhas, dado que durante o primeiro ano nunca fui importante o suficiente para receber a vossa atenção.
- Eu sei bem disso...
- Claro que sabe, Luis. Você perdeu a sua mulher por causa deste caso. Por minha causa, em parte.
- Certo.
- Bem, Luis, eu tenho algo para si.
- Como assim?
- Luis, eu sou um espinho cravado nas costas da policia da capital. Você há anos que me investiga, sem chegar a lado nenhum. O seu antecessor morreu, como o Luis bem sabe. Bem, eu vou dar-lhe uma escolha, Luis. Uma que eu não dei a ninguém antes de si.
- Que escolha?
- Um dos meus tenentes precisa de pagar pela sua traição. Alguém que pensa poder tomar o meu lugar e desempenhar o meu papel. Ele é ambicioso, esperto, e pensa que pode fazer o que eu faço.
- Certo. E que o impede de o remover do caminho?
- Nada, Luis. Em parte, é o que estou a fazer.
- Como assim?
- Você não ouve, pois não, Luis?
- Que quer dizer?
- Morte é libertação, meu caro. Eu quero-o vivo, a pagar pelos seus crimes.
- Continue...
- Bem, Luis... eu estou cansado. Farto de ser algo que nunca me trouxe prazer. Entrei neste mundo como um desafio. Desafiei-me a mim mesmo. Ser o lider de uma capital, comandar o submundo da mesma. Fi-lo como desafio, e como forma de conseguir o capital para o que preciso.
- Que está você a querer dizer?
- Luis... ninguém vai ficar com o que eu construi devido as minhas habilidades e a minha inteligencia. Alem disso, ninguém trai a minha confiança sem pagar o preço de tal.
- Continuo sem perceber.
- É fácil. Você quer o General Fantasma.
- Certo.
- Bem, Luis, eu cansei de ser o General Fantasma.
- Como assim?
- Simples, Luis. Há outras coisas que me chamam. Há uma vida sem crime a minha espera. Há uma pessoa a quem eu pertenço, sem pertencer. Há problemas a resolver. Sabe, Luis, o meu avô está bastante mal. Tem quase 80 anos. Ele tem uma quinta no alentejo, que cuidouu durante uma vida. Ele teve um enfarte recentemente. Precisa da minha ajuda, já mal consegue trabalhar a sua terra. Tenho medo que ele morra em breve. Vou embora, meu caro. Vou cuidar dos meus avós, que me criaram. O meu pai trabalhava em Lisboa, eu cresci com eles lá. Lisboa não é sitio para um miudo crescer. Sei disso, porque por mim, o meu miudo nao estaria a crescer aqui, estaria longe, numa terra pequena, perto de mim, a viver uma infancia pacata. Mas... Nem tudo é como queremos. Ela foi embora e levou o pequeno com ela. Eu vou para casa, Luis, para a minha pequena aldeia, longe de tudo. Vou cuidar de quem cuidou de mim quando a minha mãe me abandonou. Estes anos de vida a margem da lei existiram com um proposito. Poder manter a quinta na familia, um dos meus sonhos.
- Vai embora?
- Vou. Chega, Luis. Fui feliz aqui. Tive um filho. Fui quase casado. Sabe, eu pedi-a em casamento, mesmo não a amando. Fi-lo pelo miudo que hoje não posso ver. Acabou tudo mais ou menos ao mesmo tempo que a sua mulher partiu.
- Tu sabes demais, Jace...
- Eu sei, Luis, eu sei...
Ambos acabam de fumar em silencio. Mais uma vez, é Jace quem o quebra.
- Luis... quer apanhar o General Fantasma.
- Jace, é obvio que o meu intuito é colocá-lo a si atrás das grades.
- Luis...
Jace faz uma pausa, bebe de repente o conteudo do seu copo e dirige-se ao armario, enchendo novamente os copos de ambos. Acaba por acender novo charro, desta vez sem oferecer.
- Hey! Também mereço.
Jace estende mais um a Luis, que o acende de imediato.
- Obrigado.
- Sem problema, Luis.
- Jace, que pretende exactamente?
- É simples Luis. Você quer o General. Eu resignei. Quero a sua garantia de que não virá atras de mim.
- Jace, você pertence na prisão.
- Eu sei, Luis, eu sei... Mas é por isso que aqui estou. Você sabe bem o quanto percorreu em vão.
- Sei sim.
- Bem, Luis, como lhe disse, estou cansado. Há uma vida sem crime a minha espera. Certo, é uma vida dura, a trabalhar no campo. É a vida a que eu resolvi escapar há anos, e à qual quero agora voltar.
- Porque raios iria você largar a sua vida, Jace? Você tem tudo!
- Não sou feliz, Luis, logo, não tenho tudo. Tudo o que quero é ser feliz. E a felicidade é algo muito estranho. Sou rico. Paguei a minha casa, fiz uma vida livre aqui, bastante confortavel. Vou embora. Os meus motivos são meus, mas a si basta saber que vou embora. Não há mais crimes organizados por mim.
- E que raios ganho eu com tal?
- Você ganha a sua promoção, Luis. Eu vou embora. Vou deixar Lisboa, que é a sua jurisdição. Estou a entregar-lhe de borla, ou quase, essa mesma.
- Juro que não estou a perceber.
- Luis... inumeros dissabores seus foram causados por mim. Eu acho-lhe piada, Luis. Acho que você me lembra o meu pai. Aquilo uqe vim fazer foi trazer-lhe uma oferta irrecusavel. Pretendo entregar-lhe a cabeça do General Fantasma. Pretendo que seja o Luis a fazer a detenção. Ninguém alem de si sabe quem eu sou. Como tal, quando o Luis prender o novo General, é ele que será acusado de tudo. O Luis recebe a sua promoção, que tanto trabalhou por ter. Eu recebo paz, a vingança contra aqueles que me trairam, e a certeza de que não terei mais repercussões da sua parte. Como o Luis já percebeu, não me vai apanhar tão cedo. Bem, eu não quero ser apanhado. Nunca. A oferta que lhe trago é perfeita para si. E para mim. Em troca, o Luis um dia irá retribuir-me com um favor.
- Que favor?
- Não sei, Luis. Posso até nunca o cobrar. Mas você fica em divida para comigo.
- Você sabe que eu não vou aceitar.
- Claro que vai, Luis. Os seus reflexos estão lentos, a sua coordenação motora afectada.
- Que quer dizer com isso?
- Não quero matá-lo, Luis, mas posso fazê-lo já se vai recusar a minha proposta.
Jace faz um movimento rapido com o braço direito, demasiado rapido para a já toldada percepção de Luis acompanhar. Quando Luis dá conta, uma corrente negra de metal está envolta em seu pescoço, trancada em si mesma, a outra ponta na mão direita de Jace.
- Vê? Basta-me apertar e o Luis asfixia sem hipotese de resposta. Diga-me... está pronto a aceitar? O caso resolvido, a sua promoção, um favor em divida. Ou a sua morte. Escolha.
- Não há muito a escolher, pois não?
- Você nunca teve escolha. Com licensa.
Jace liberta a corrente e recolhe-a de volta a manga do casaco.
- Na sua caixa de correio está um dossier. Dentro deste estão os planos para os proximos dois meses, a localização do quartel general onde o novo General opera, bem como a identidade deste e de alguns que resolveram segui-lo. Há provas que cheguem para o meter atrás das grades durante anos. Não se esqueça, Luis. Você está em divida para comigo. Quando eu precisar de si, você vai ajudar-me. Tenha uma boa vida, bem a merece.
Jace sai, deixando Luis a sós, estupefacto com esta ultima hora. Parece que vai finalmente encerrar o caso, se bem que não da forma como havia esperado. Honestamente sabe que merece um pouco de sossego. Vai aproveita-lo, dado que foi forçado a aceitar o mesmo.
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