Olho para os milhares de pedaços de uma mente quebrada vezes sem conta,
peças soltas do puzzle que um dia foi um ser humano, ao qual só restam
sonhos destroçados, agonia e uma folha de papel, perdido na embriaguês
da culpa e do desespero.
Nada resta do antigo poeta sonhador, nada de
belo ou bom existe ainda cá dentro. Destilado o fel que brota da minha
alma, exorciso demonios num papel, em inutil tentativa de colar os
pedaços de algo que outrora foi bom, perdido ao criar ilusões que
deformam a minha percepção de mim e do mundo.
Não sei o que sou, não
sei o que quero, não consigo distinguir as memorias reais dos trances
dementes em que algo que não sou eu toma conta de mim e violentamente me
possui, acto no qual me deixo levar pelo masoquismo e tentativa de fuga
aos pedaços deste coração demasiado magoado para voltar a sentir algo
novo, incansavel na sua sede de amor, a mais impura forma de gostar, e
renegando aqueles que estão dispostos a arriscar a vida na esperança de
que um dia um farrapo de consciencia daquilo que outrora fui possa vir a
ser alguém, mesmo quando não há em mim certezas do que sou, quando não
resta um pouco de talento nas minhas veias dissecadas por sucessivas
mutilações a que me sujeito em momentos em que a dor se torna demasiado
insuportável e tenho que exteriorizar tudo o que me atormenta, apesar da
frágil aparencia de que tudo está bem.
Sei! Sei que não sou nada e há muito que perdi a esperança de voltar a ser algo...
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