segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Pedaços de Alma

Olho para os milhares de pedaços de uma mente quebrada vezes sem conta, peças soltas do puzzle que um dia foi um ser humano, ao qual só restam sonhos destroçados, agonia e uma folha de papel, perdido na embriaguês da culpa e do desespero.
Nada resta do antigo poeta sonhador, nada de belo ou bom existe ainda cá dentro. Destilado o fel que brota da minha alma, exorciso demonios num papel, em inutil tentativa de colar os pedaços de algo que outrora foi bom, perdido ao criar ilusões que deformam a minha percepção de mim e do mundo.
Não sei o que sou, não sei o que quero, não consigo distinguir as memorias reais dos trances dementes em que algo que não sou eu toma conta de mim e violentamente me possui, acto no qual me deixo levar pelo masoquismo e tentativa de fuga aos pedaços deste coração demasiado magoado para voltar a sentir algo novo, incansavel na sua sede de amor, a mais impura forma de gostar, e renegando aqueles que estão dispostos a arriscar a vida na esperança de que um dia um farrapo de consciencia daquilo que outrora fui possa vir a ser alguém, mesmo quando não há em mim certezas do que sou, quando não resta um pouco de talento nas minhas veias dissecadas por sucessivas mutilações a que me sujeito em momentos em que a dor se torna demasiado insuportável e tenho que exteriorizar tudo o que me atormenta, apesar da frágil aparencia de que tudo está bem.
Sei! Sei que não sou nada e há muito que perdi a esperança de voltar a ser algo...

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