- Diogo!
O toque no ombro fez Diogo voltar à terra. Estava na biblioteca de casa, Vivaldi a tocar em volume máximo nos phones, agarrado a uma folha de desenho, rabiscando um esquema que David não compreendeu, mas resolveu não questionar. Tirou os phones e olhou para o pai, notando uma certa irritação nos olhos dele.
- Passa-se alguma coisa?
- Estou farto de te chamar.
- Estava distraído, não te ouvi, desculpa.
- Que estás tu a ouvir que nem ouves as pessoas?
- Quatro Estações, de Vivaldi.
- Não estás a ouvir berros? Estranho. Enfim, vai trocar de roupa. Vamos jantar fora.
- Porquê?
- Porque tenho fome, raios de pergunta. Lá por tu ignorares as tuas necessidades fisicas por estares demasiado concentrado, eu não o faço. E alguém tem que te arrancar desse teu mundinho.
- Eu estava bem no meu mundinho. Mas tens razão, já comia qualquer coisa. Sushi?
- Raios te partam mais o peixe cru.
- Tu gostas.
- Hoje não me apetece peixe. Arranja outra coisa.
- Vamos embora, decidimos pelo caminho. Tens algo que se ouça no carro?
- Se eu disser que sim, vais ouvir?
- Não.
- Despacha-te. Apetece-me comida regional alentejana.
- Só podes estar a brincar. Para isso não saiamos de casa.
- Queres tu fazer o jantar?
- Queres comer, certo?
- Pois... tens razão. Mexe-te.
Riram com o rumo da conversa, pai e filho rindo juntos como os amigos que eram. David pretendia usar este jantar para tentar arrancar alguma informação a Diogo sobre como estavam a correr as aulas, e especialmente como estava a correr a adaptação à nova escola e aos novos colegas. Passou apenas uma semana desde o inicio das aulas, mas ainda assim, David está preocupado. Tem ponderado tirar Diogo da psicoterapia, no entanto teme pelos efeitos disso. Apesar de saber que Diogo odeia aquilo, David viu alguns efeitos positivos em Diogo, que não conseguiu ainda perceber se se devem à medicação, à terapia, ou ao próprio crescimento de Diogo. Nos meses mais recentes, Diogo parecia menos infeliz, especialmente desde o final do nono ano, e da cerimónia em que recebeu o prémio de mérito, devido aos resultados perfeitos nesse ano, único de todas as turmas de nono ano a recebê-lo. David assistiu, orgulhoso, à entrega dos prémios e foi o único a perceber o sorriso sarcástico de vitória espelhado no rosto de Diogo ao receber o seu prémio. Diogo pediu a David que lhe permitisse aumentar a frequência dos treinos marciais durante o verão, argumentando esse prémio. David acedeu, e nem precisava de qualquer justificação para aceder a tal pedido. O pensamento de ter Diogo enfiado em casa durante todas as férias de Verão, sem contacto com ninguém além de si e dos seus pais não era algo que agradasse a David. Ele tem feito tudo o possivel para minimizar os efeitos daquela decisão tomada com Isabel. Sente uma quanta culpa pelo que Diogo passou nos ultimos anos. O jantar foi a forma que David arranjou para ter um pouco de privacidade com o filho, para tentar perceber o que se estava a passar com este, para tentar prestar uma ajuda que sabia perfeitamente que Diogo nunca iria pedir. David não é alguém que lide bem com emoções, e, de certa forma, pensa que isso afectou Diogo, tornando-o ainda mais frio e desligado que ele próprio. David sabe que, fora da familia, Diogo evita ao máximo envolver-se com pessoas, muito devido aos maus tratos que recebeu ao longo dos ultimos anos às mãos dos colegas de escola, e teme que essa lacuna a nível social seja a principal causa da evidente infelicidade de Diogo. David precisa apalpar terreno, tentar chegar a uma imagem mais proxima do real sobre o estado psicologico de Diogo.
- Diogo! Mexe-te noiva.
- Já vou, estava a gravar um CD.
- Tanto tempo para mudar de roupa quando só usas uma cor?
- Já de disse que estava a gravar um CD.
- Berros?
- Não. Uma colectânea de violinos clássicos.
- Já decidiste onde vamos?
- Não posso comer sushi, escolhe tu.
- Entra e mete os violinos, fiquei curioso com isso.
Arrancaram. Diogo notou que havia algo a ocupar a mente de David. Não perguntou o quê, nunca fazia esse tipo de perguntas. No entanto, ficou com a sensação de que seria referente a si. Não era assim tão incomum David levar a família a jantar fora, mas normalmente levava também os avós de Diogo, em vez de sairem apenas os dois. Procuraria privacidade? Haveria algo na mente de David a partilhar com Diogo? Os violinos, apesar de belos, não eram o suficiente para afastar da cabeça de Diogo estes pensamentos. Queria chegar ao destino, começar a jantar, esperar que David começasse ou a relaxar ou a dizer o que tinha a dizer o mais rápido possível. Apesar de desde cedo ter aprendido a mascarar os seus sentimentos, Diogo era extremamente empático, sendo facilmente afectado pelos estados de espírito daqueles de que gostava. Além das dificuldades a que foi exposto, esse foi também um factor que levou Diogo a manter-se afastado dos restantes. Se não se envolvesse, não era afectado. Se não criasse laços, não era arrastado pelas emoções alheias. E lidar com emoções era, sem duvida, a sua maior fraqueza.
A viagem, apesar de relativamente longa, rapidamente chegou ao fim, David usando a capacidade do seu carro, puxando-o ao máximo possível até entrar na cidade onde decidira ir jantar com o filho. Estacionou praticamente em frente do restaurante, sairam do carro e entraram no mesmo, David seguindo à frente. Escolhera um restaurante com sala de refeições na cave, uma velha cave de repouso e vinhos adaptada, ainda decorada de forma a lembrar a antiga função, paredes escondidas atrás de pipos de vinho em madeira. Estavam sozinhos na sala. Sentaram-se, David pediu uma dose de carne de porco à alentejana, e uma garrafa de vinho pequena, sua habitual bebida à refeição. Diogo optou por um simples bitoque e um sumo de laranja natural. Esperaram em silêncio, David ainda a pensar como puxar o assunto que pretendia discutir, Diogo continuando o esquema em que estava a trabalhar antes de sair de casa, guardando a folha dobrada no bolso apenas quando os pratos foram entregues à mesa.
- Que estás a rabiscar?
- Algoritmos.
- Resolveste começar a programar?
- Não é bem de agora. Ando a pensar nisto desde o inicio do Verão.
- É o quê?
- Oh! É só uma parvoice sem utilidade prática.
- Queres explicar?
- Nem por isso. É uma parvoice, já te disse.
David resolveu não insistir no assunto. Diogo tinha tendência a ser extremamente reservado nestes pequenos projectos. No Verão anterior também havia passado muito tempo agarrado a algo, sem nunca revelar o quê a ninguém, até que um pequeno robot com uma câmera e um braço mecânico simples começou a circular pela casa para lhe trazer livros, CD's e a ocasional lata de bebida. Eventualmente arrumou-o no sotão após algumas semanas. David estava curioso com o que iria aparecer dessa vez.
- Diz lá o que te está a remoer por dentro, pai.
- Como vai a escola?
- É isso?!
- É. Preocupação de pai.
- Vai bem.
- Que achas dos professores?
- Alguns são interessantes.
- E a turma?
- Sei lá.
- Conheces algum?
- O John.
- John? Isso é nome próprio.
- Sim. Nasceu em Inglaterra, filho de pais portugueses.
- Houve algum... problema?
- Não, descansa. Passou uma semana, não há tempo para isso ainda.
- Vamos ver. Contas-me se algo acontecer?
- Sim, descansa. Eu sei tomar conta de mim, sabes?
- Sim, eu sei.
Há silêncios e silêncios. Este era um daqueles que se prendiam a coisas que se sabem mas que não se deseja partilhar em voz alta, apesar de em pensamento partilharem a dor. O jantar provara-se infrutífero para David, se bem que este percebia a reacção defensiva e reservada do filho. Era muito pouco tempo para que as coisas tivessem já começado a correr mal.
Ao fim de uma semana, tudo o que Diogo sabia era que ninguém o havia tratado de forma incorrecta. John e Diogo bebiam café de manhã, iam sossegados de seguida para a primeira aula, o cérebro ainda a arrancar por completo. Intervalo a seguir, tostas de queijo e um cigarro, habito que Diogo apanhou rapidamente com John, ouviam musica e falavam de tudo ou de nada pelo meio. Almoço sempre na cantina, sorrisos na cara de ambos, cumprimentando com uma desinteressada simpatia as senhoras da cantina, ocasionalmente retribuída por uma sobremesa extra. Tomavam café e um shot de vodka num pub próximo, situado num rés-do-chão e cave, mais sossegada, onde costumavam ficar a conversar até que calhava. As vezes baldavam-se as aulas da tarde, jogando pool e falando de si mesmos ou de qualquer outra coisa que lhes cruzasse a ideia.
Na segunda feira da terceira semana de aulas, sem terem sequer mencionado o assunto um ao outro, ambos se inscreveram no clube de informática da escola, separadamente. Foram informados de que este decorria todas as terças e quintas, numa sala adjacente da biblioteca da escola, entre as 18 e as 20. Descobriram no dia seguinte a coincidência, encontrando-se ambos na biblioteca assim que as 18 horas chegaram, deixados sozinhos durante minutos, até que uma rapariga de cabelos ondulados se lhes juntou pouco depois. Os elementos mais antigos do clube, quatro rapazes e uma rapariga, chegaram uns após os outros nos minutos a seguir as 18:30. Um dos rapazes olhou os três, levantando o sobrolho.
- O que estão a fazer sentados em vez de começarem o que raios querem fazer?
- Como assim?
A voz de Diogo ouviu-se baixa, mas perceptivel.
- Aquilo uqe estavam a pensar que iam fazer quando se inscreveram. Os computadores estão ali, pessoas, dentro da sala que tem o papel que diz, estranhamente, "Clube de Informática", nós não os levamos connosco. Informática senhores. Metam as mãos à obra e sujem-nas, por assim dizer. Se tiverem duvidas, falem uns com os outros, falem connosco, pesquisem na internet. Juntos, podemos ajudar-nos uns aos outros a fazer o que cada um quer, aprendendo um pouco mais pelo caminho. Nos costumamos usar os da fila do fundo. Escolham uma máquina para vocês e divirtam-se.
Os novatos entreolharam-se, surpresos. Escolheram computadores para cada um, e foram novamente chamados à atenção pelo mesmo rapaz, que lhes apontou um armário.
- Têm software naquele armário. E manuais. Recomendo-vos formatarem as vossas máquinas e personaliza-las de seguida. Aproveitem, cada um vai ter acesso à sua, portanto usem-nas. Dúvidas pelo meio, já sabem. Procurem ajuda. Além disso, divirtam-se. Benvindos ao clube de informática.
O toque no ombro fez Diogo voltar à terra. Estava na biblioteca de casa, Vivaldi a tocar em volume máximo nos phones, agarrado a uma folha de desenho, rabiscando um esquema que David não compreendeu, mas resolveu não questionar. Tirou os phones e olhou para o pai, notando uma certa irritação nos olhos dele.
- Passa-se alguma coisa?
- Estou farto de te chamar.
- Estava distraído, não te ouvi, desculpa.
- Que estás tu a ouvir que nem ouves as pessoas?
- Quatro Estações, de Vivaldi.
- Não estás a ouvir berros? Estranho. Enfim, vai trocar de roupa. Vamos jantar fora.
- Porquê?
- Porque tenho fome, raios de pergunta. Lá por tu ignorares as tuas necessidades fisicas por estares demasiado concentrado, eu não o faço. E alguém tem que te arrancar desse teu mundinho.
- Eu estava bem no meu mundinho. Mas tens razão, já comia qualquer coisa. Sushi?
- Raios te partam mais o peixe cru.
- Tu gostas.
- Hoje não me apetece peixe. Arranja outra coisa.
- Vamos embora, decidimos pelo caminho. Tens algo que se ouça no carro?
- Se eu disser que sim, vais ouvir?
- Não.
- Despacha-te. Apetece-me comida regional alentejana.
- Só podes estar a brincar. Para isso não saiamos de casa.
- Queres tu fazer o jantar?
- Queres comer, certo?
- Pois... tens razão. Mexe-te.
Riram com o rumo da conversa, pai e filho rindo juntos como os amigos que eram. David pretendia usar este jantar para tentar arrancar alguma informação a Diogo sobre como estavam a correr as aulas, e especialmente como estava a correr a adaptação à nova escola e aos novos colegas. Passou apenas uma semana desde o inicio das aulas, mas ainda assim, David está preocupado. Tem ponderado tirar Diogo da psicoterapia, no entanto teme pelos efeitos disso. Apesar de saber que Diogo odeia aquilo, David viu alguns efeitos positivos em Diogo, que não conseguiu ainda perceber se se devem à medicação, à terapia, ou ao próprio crescimento de Diogo. Nos meses mais recentes, Diogo parecia menos infeliz, especialmente desde o final do nono ano, e da cerimónia em que recebeu o prémio de mérito, devido aos resultados perfeitos nesse ano, único de todas as turmas de nono ano a recebê-lo. David assistiu, orgulhoso, à entrega dos prémios e foi o único a perceber o sorriso sarcástico de vitória espelhado no rosto de Diogo ao receber o seu prémio. Diogo pediu a David que lhe permitisse aumentar a frequência dos treinos marciais durante o verão, argumentando esse prémio. David acedeu, e nem precisava de qualquer justificação para aceder a tal pedido. O pensamento de ter Diogo enfiado em casa durante todas as férias de Verão, sem contacto com ninguém além de si e dos seus pais não era algo que agradasse a David. Ele tem feito tudo o possivel para minimizar os efeitos daquela decisão tomada com Isabel. Sente uma quanta culpa pelo que Diogo passou nos ultimos anos. O jantar foi a forma que David arranjou para ter um pouco de privacidade com o filho, para tentar perceber o que se estava a passar com este, para tentar prestar uma ajuda que sabia perfeitamente que Diogo nunca iria pedir. David não é alguém que lide bem com emoções, e, de certa forma, pensa que isso afectou Diogo, tornando-o ainda mais frio e desligado que ele próprio. David sabe que, fora da familia, Diogo evita ao máximo envolver-se com pessoas, muito devido aos maus tratos que recebeu ao longo dos ultimos anos às mãos dos colegas de escola, e teme que essa lacuna a nível social seja a principal causa da evidente infelicidade de Diogo. David precisa apalpar terreno, tentar chegar a uma imagem mais proxima do real sobre o estado psicologico de Diogo.
- Diogo! Mexe-te noiva.
- Já vou, estava a gravar um CD.
- Tanto tempo para mudar de roupa quando só usas uma cor?
- Já de disse que estava a gravar um CD.
- Berros?
- Não. Uma colectânea de violinos clássicos.
- Já decidiste onde vamos?
- Não posso comer sushi, escolhe tu.
- Entra e mete os violinos, fiquei curioso com isso.
Arrancaram. Diogo notou que havia algo a ocupar a mente de David. Não perguntou o quê, nunca fazia esse tipo de perguntas. No entanto, ficou com a sensação de que seria referente a si. Não era assim tão incomum David levar a família a jantar fora, mas normalmente levava também os avós de Diogo, em vez de sairem apenas os dois. Procuraria privacidade? Haveria algo na mente de David a partilhar com Diogo? Os violinos, apesar de belos, não eram o suficiente para afastar da cabeça de Diogo estes pensamentos. Queria chegar ao destino, começar a jantar, esperar que David começasse ou a relaxar ou a dizer o que tinha a dizer o mais rápido possível. Apesar de desde cedo ter aprendido a mascarar os seus sentimentos, Diogo era extremamente empático, sendo facilmente afectado pelos estados de espírito daqueles de que gostava. Além das dificuldades a que foi exposto, esse foi também um factor que levou Diogo a manter-se afastado dos restantes. Se não se envolvesse, não era afectado. Se não criasse laços, não era arrastado pelas emoções alheias. E lidar com emoções era, sem duvida, a sua maior fraqueza.
A viagem, apesar de relativamente longa, rapidamente chegou ao fim, David usando a capacidade do seu carro, puxando-o ao máximo possível até entrar na cidade onde decidira ir jantar com o filho. Estacionou praticamente em frente do restaurante, sairam do carro e entraram no mesmo, David seguindo à frente. Escolhera um restaurante com sala de refeições na cave, uma velha cave de repouso e vinhos adaptada, ainda decorada de forma a lembrar a antiga função, paredes escondidas atrás de pipos de vinho em madeira. Estavam sozinhos na sala. Sentaram-se, David pediu uma dose de carne de porco à alentejana, e uma garrafa de vinho pequena, sua habitual bebida à refeição. Diogo optou por um simples bitoque e um sumo de laranja natural. Esperaram em silêncio, David ainda a pensar como puxar o assunto que pretendia discutir, Diogo continuando o esquema em que estava a trabalhar antes de sair de casa, guardando a folha dobrada no bolso apenas quando os pratos foram entregues à mesa.
- Que estás a rabiscar?
- Algoritmos.
- Resolveste começar a programar?
- Não é bem de agora. Ando a pensar nisto desde o inicio do Verão.
- É o quê?
- Oh! É só uma parvoice sem utilidade prática.
- Queres explicar?
- Nem por isso. É uma parvoice, já te disse.
David resolveu não insistir no assunto. Diogo tinha tendência a ser extremamente reservado nestes pequenos projectos. No Verão anterior também havia passado muito tempo agarrado a algo, sem nunca revelar o quê a ninguém, até que um pequeno robot com uma câmera e um braço mecânico simples começou a circular pela casa para lhe trazer livros, CD's e a ocasional lata de bebida. Eventualmente arrumou-o no sotão após algumas semanas. David estava curioso com o que iria aparecer dessa vez.
- Diz lá o que te está a remoer por dentro, pai.
- Como vai a escola?
- É isso?!
- É. Preocupação de pai.
- Vai bem.
- Que achas dos professores?
- Alguns são interessantes.
- E a turma?
- Sei lá.
- Conheces algum?
- O John.
- John? Isso é nome próprio.
- Sim. Nasceu em Inglaterra, filho de pais portugueses.
- Houve algum... problema?
- Não, descansa. Passou uma semana, não há tempo para isso ainda.
- Vamos ver. Contas-me se algo acontecer?
- Sim, descansa. Eu sei tomar conta de mim, sabes?
- Sim, eu sei.
Há silêncios e silêncios. Este era um daqueles que se prendiam a coisas que se sabem mas que não se deseja partilhar em voz alta, apesar de em pensamento partilharem a dor. O jantar provara-se infrutífero para David, se bem que este percebia a reacção defensiva e reservada do filho. Era muito pouco tempo para que as coisas tivessem já começado a correr mal.
Ao fim de uma semana, tudo o que Diogo sabia era que ninguém o havia tratado de forma incorrecta. John e Diogo bebiam café de manhã, iam sossegados de seguida para a primeira aula, o cérebro ainda a arrancar por completo. Intervalo a seguir, tostas de queijo e um cigarro, habito que Diogo apanhou rapidamente com John, ouviam musica e falavam de tudo ou de nada pelo meio. Almoço sempre na cantina, sorrisos na cara de ambos, cumprimentando com uma desinteressada simpatia as senhoras da cantina, ocasionalmente retribuída por uma sobremesa extra. Tomavam café e um shot de vodka num pub próximo, situado num rés-do-chão e cave, mais sossegada, onde costumavam ficar a conversar até que calhava. As vezes baldavam-se as aulas da tarde, jogando pool e falando de si mesmos ou de qualquer outra coisa que lhes cruzasse a ideia.
Na segunda feira da terceira semana de aulas, sem terem sequer mencionado o assunto um ao outro, ambos se inscreveram no clube de informática da escola, separadamente. Foram informados de que este decorria todas as terças e quintas, numa sala adjacente da biblioteca da escola, entre as 18 e as 20. Descobriram no dia seguinte a coincidência, encontrando-se ambos na biblioteca assim que as 18 horas chegaram, deixados sozinhos durante minutos, até que uma rapariga de cabelos ondulados se lhes juntou pouco depois. Os elementos mais antigos do clube, quatro rapazes e uma rapariga, chegaram uns após os outros nos minutos a seguir as 18:30. Um dos rapazes olhou os três, levantando o sobrolho.
- O que estão a fazer sentados em vez de começarem o que raios querem fazer?
- Como assim?
A voz de Diogo ouviu-se baixa, mas perceptivel.
- Aquilo uqe estavam a pensar que iam fazer quando se inscreveram. Os computadores estão ali, pessoas, dentro da sala que tem o papel que diz, estranhamente, "Clube de Informática", nós não os levamos connosco. Informática senhores. Metam as mãos à obra e sujem-nas, por assim dizer. Se tiverem duvidas, falem uns com os outros, falem connosco, pesquisem na internet. Juntos, podemos ajudar-nos uns aos outros a fazer o que cada um quer, aprendendo um pouco mais pelo caminho. Nos costumamos usar os da fila do fundo. Escolham uma máquina para vocês e divirtam-se.
Os novatos entreolharam-se, surpresos. Escolheram computadores para cada um, e foram novamente chamados à atenção pelo mesmo rapaz, que lhes apontou um armário.
- Têm software naquele armário. E manuais. Recomendo-vos formatarem as vossas máquinas e personaliza-las de seguida. Aproveitem, cada um vai ter acesso à sua, portanto usem-nas. Dúvidas pelo meio, já sabem. Procurem ajuda. Além disso, divirtam-se. Benvindos ao clube de informática.
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