Antes de vos permitir ler mais um pequeno excerto, tenho algo a dizer. Quero desejar a todos os meus leitores, amigos e familiares umas boas festas, com votos de que tenham tudo o que merecem de bom nesta quadra. Agradeço a todos os meus leitores pelo tempo dispensado aos meus testamentos.
Votos de boas festas.
J. Carvalho
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Jace encontra-se no miradouro, observando a avenida movimentada naquele final de tarde. Veio encontrar Diablo, a pedido deste. O tom de Diablo parecia urgente ao telefone. A conversa resumiu-se a um cumprimento e a um pedido de que Jace o encontrasse ali. Jace chegou há momentos. Envia uma mensagem a Diablo a avisar da chegada, acende um cigarro e espera a resposta.
Precisa de um café. Mais uma directa, o corpo exausto, o cérebro já quase habituado, sempre quase habituado, nunca sendo realmente confortável, mas ainda assim, a prática excessiva deste hábito é necessária, devido às suas actividades, à programação sistemática daquele projecto... Dormir é sempre relegado para ultimo plano e as olheiras de Jace, aliadas à sua pele já por si pálida fazem-no parecer quase cadavérico nos ultimos meses.
Diablo chega minutos depois, capacete enfiado no braço, jeans rasgadas nos joelhos, t-shirt e óculos de sol. Apertam a mão.
- Seja o que for que queres falar, podemos fazê-lo sentados a tomar café?
- 'Tás com cara de zombie, puto. Dormiste?
- Quando?
- Acho que essa resposta diz tudo. Anda lá tomar café.
Atravessam a rua, entram no café mais próximo. Diablo pede uma cerveja, Jace um café duplo.
- Que se passa Diablo?
- Acho que a questão é mais o que se passa contigo. 'Tás com ar de zombie, e não pareces muito bem. Queres falar, desabafar?
- Estou optimo. É só cansaço. Que precisas?
- Preciso que uses esse teu cérebro para mim.
- Como assim?
- Preciso que me ajudes a fazer contas e a preparar um projecto.
- Qual é o projecto?
- Preciso de montar um bar para mim.
- Chateaste-te com o Rui, finalmente?
- 'Tou farto de não ver os meus esforços recompensados, de trabalhar sem direito a descontos, de ser explorado.
- Diablo, tu és a alma do sitio. Sem ti aquilo fecha.
- Ele encontra alguém de certeza.
- Tens algum sitio em vista?
- Tenho. É perto daqui. Queres vir?
- Vamos já. Tens alguma ideia do valor?
- Não. 'Tou a pedir-te que me ajudes desde o zero basicamente.
- Quanto dinheiro tens?
- 2000.
- Não chega para arrancar.
- Eu sei. Mas 'tou a pensar pedir um empréstimo. Daí pedir-te ajuda com as contas.
- Diablo, eu não sou grande coisa em gestão, nunca tentei fazê-lo.
- Jace... eu sei o que tu realmente fazes, lembras-te?
- Que tem isso a ver com não saber gestão?
- Tu fazes gestão todos os dias. Olha lá, aquela miúda que tu encontraste, com quem tens passado algum tempo...
- Que tem?
- Jace, tu não és do tipo de ter uma namorada. Que se passa?
- Tornou-se numa aliada valiosa, aquela. Chama-me Mano.
- Mano? Ganhaste uma irmã mais nova foi?
- Mais velha. Advogada. Eu precisava de uma.
- Como raios é que tu te aliaste a uma advogada?
- Salvei-a de ser assaltada.
- Armado em cavaleiro andante, Jace?
- Sabes bem que eu não quero que a minha cidade seja insegura.
- O que fizeste afinal?
- Deixei uma mensagem escrita na pele do menino.
- Começas a ter... fama.
- Como assim?
- As pessoas falam de alguém que está a tomar as rédeas. Já irritaste muita gente graúda. Alguns querem a tua cabeça. Outros querem falar de negócios.
- Eu escolho com quem negoceio. E se querem a minha cabeça, terão que me encontrar primeiro.
- Até quando consegues esconder-te?
- Veremos. Tenho um trunfo na manga, quase pronto a ser jogado.
- Que truque?
- Verás quando for terminado.
- És um cortes.
- Sou? - Jace finalmente sorri, um frágil e momentâneo sorriso. - Estou a espera que sejas sincero, Diablo...
- Que queres dizer com isso?
- Podias ter-me pedido ajuda com contas ao telefone.
Diablo fica calado durante alguns minutos. Sente-se dividido, preso entre a lealdade a Jace e a preocupação com este. Jace descobriu rapidamente que havia um motivo oculto para este encontro. Diablo está genuinamente preocupado, e não é o único. Apesar de saber que Jace se tem encontrado com Vânia, apercebeu-se pela conversa que esta não é um envolvimento romântico. Manos. Almas gémeas. Diablo tem noção de que Vânia tem algumas ligações ocultas, e pela conversa de Jace, eles aliaram esforços. Não é esse o motivo da preocupação de Diablo. Jace sabe cuidar de si e escolher quem o rodeia. Mas Diablo suspeita que Jace está a sofrer em silêncio. Jace tem pouquíssimos amigos, e Diablo é o mais antigo deles. Diablo é também o único a conhecer a verdadeira razão porque Jace deixou o sul e veio para a capital, e teme que este esteja a beira de um novo esgotamento. Se tal acontecer, Jace será apanhado, a sua rede desmantelada, e a liberdade de Jace desaparecerá. A preocupação levou Diablo a contactar David. Ao fazê-lo, descobriu que Jace não dava noticias há quase dois meses. David pediu-lhe para tentar descobrir qualquer coisa. Fosse o que fosse. Se Jace estava mal, David queria saber, ajudar. Mas não o podia fazer sem saber ao certo o que se passava com o seu filho. Diablo tentou tranquilizá-lo, dizendo que Jace deveria estar simplesmente cansado com demasiado trabalho, e ambos sabiam bem o quão obsessivo e perfeccionista Jace se podia tornar. Ainda assim, prometeu a David que falaria com ele. Mas agora, frente a frente com Jace, Diablo não sabe como começar a conversa que precisa ter com Jace.
- Jace, estamos preocupados contigo.
- Estamos? Quem?
- Eu.
- E mais quem?
Diablo não consegue responder.
- Falaste com o meu pai, não foi?
- Falei.
- Foda-se Diablo! Eu estou bem, não têm nada que se preocupar.
- Jace, 'tás com cara de quem não dorme há dias, ninguém sabe nada do que se passa contigo. Foda-se, nem em mim confias para desabafar já. Nós gostamos de ti, Jace. Preocupamo-nos contigo.
- Eu também gosto de vocês. Mas que raio queres que eu lhe diga? Estou prestes a concluir o projecto. Estou pouco a pouco a tomar as rédeas desta cidade. O meu isolamento é uma necessidade, Diablo.
- Necessidade porquê? És teimoso que nem uma mula. Achas mesmo que o teu pai vai pensar menos de ti?
- Há muito que o desiludi. Há muito que não mereço a confiança dele, ou a preocupação, ou o amor. Eu sou um falhado aos olhos dele, uma decepção. Ele deu-me tudo para ser um profissional de topo e para ser o orgulho da família, e eu peguei nisso e atirei tudo fora.
- Merda Jace. Tu conseguiste mais na tua idade que muitos conseguirão numa vida.
- A que preço? Não consigo olhar o resto da família nos olhos. Não mereço a vossa preocupação, o vosso amor, ou a vossa confiança.
- Jace... somos a tua família. Queremos ajudar-te. Podemos ajudar-te se nos deixares.
Jace levanta-se, vira as costas a Diablo.
- É melhor assim. Estou a proteger-vos do que me tornei.
Votos de boas festas.
J. Carvalho
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Jace encontra-se no miradouro, observando a avenida movimentada naquele final de tarde. Veio encontrar Diablo, a pedido deste. O tom de Diablo parecia urgente ao telefone. A conversa resumiu-se a um cumprimento e a um pedido de que Jace o encontrasse ali. Jace chegou há momentos. Envia uma mensagem a Diablo a avisar da chegada, acende um cigarro e espera a resposta.
Precisa de um café. Mais uma directa, o corpo exausto, o cérebro já quase habituado, sempre quase habituado, nunca sendo realmente confortável, mas ainda assim, a prática excessiva deste hábito é necessária, devido às suas actividades, à programação sistemática daquele projecto... Dormir é sempre relegado para ultimo plano e as olheiras de Jace, aliadas à sua pele já por si pálida fazem-no parecer quase cadavérico nos ultimos meses.
Diablo chega minutos depois, capacete enfiado no braço, jeans rasgadas nos joelhos, t-shirt e óculos de sol. Apertam a mão.
- Seja o que for que queres falar, podemos fazê-lo sentados a tomar café?
- 'Tás com cara de zombie, puto. Dormiste?
- Quando?
- Acho que essa resposta diz tudo. Anda lá tomar café.
Atravessam a rua, entram no café mais próximo. Diablo pede uma cerveja, Jace um café duplo.
- Que se passa Diablo?
- Acho que a questão é mais o que se passa contigo. 'Tás com ar de zombie, e não pareces muito bem. Queres falar, desabafar?
- Estou optimo. É só cansaço. Que precisas?
- Preciso que uses esse teu cérebro para mim.
- Como assim?
- Preciso que me ajudes a fazer contas e a preparar um projecto.
- Qual é o projecto?
- Preciso de montar um bar para mim.
- Chateaste-te com o Rui, finalmente?
- 'Tou farto de não ver os meus esforços recompensados, de trabalhar sem direito a descontos, de ser explorado.
- Diablo, tu és a alma do sitio. Sem ti aquilo fecha.
- Ele encontra alguém de certeza.
- Tens algum sitio em vista?
- Tenho. É perto daqui. Queres vir?
- Vamos já. Tens alguma ideia do valor?
- Não. 'Tou a pedir-te que me ajudes desde o zero basicamente.
- Quanto dinheiro tens?
- 2000.
- Não chega para arrancar.
- Eu sei. Mas 'tou a pensar pedir um empréstimo. Daí pedir-te ajuda com as contas.
- Diablo, eu não sou grande coisa em gestão, nunca tentei fazê-lo.
- Jace... eu sei o que tu realmente fazes, lembras-te?
- Que tem isso a ver com não saber gestão?
- Tu fazes gestão todos os dias. Olha lá, aquela miúda que tu encontraste, com quem tens passado algum tempo...
- Que tem?
- Jace, tu não és do tipo de ter uma namorada. Que se passa?
- Tornou-se numa aliada valiosa, aquela. Chama-me Mano.
- Mano? Ganhaste uma irmã mais nova foi?
- Mais velha. Advogada. Eu precisava de uma.
- Como raios é que tu te aliaste a uma advogada?
- Salvei-a de ser assaltada.
- Armado em cavaleiro andante, Jace?
- Sabes bem que eu não quero que a minha cidade seja insegura.
- O que fizeste afinal?
- Deixei uma mensagem escrita na pele do menino.
- Começas a ter... fama.
- Como assim?
- As pessoas falam de alguém que está a tomar as rédeas. Já irritaste muita gente graúda. Alguns querem a tua cabeça. Outros querem falar de negócios.
- Eu escolho com quem negoceio. E se querem a minha cabeça, terão que me encontrar primeiro.
- Até quando consegues esconder-te?
- Veremos. Tenho um trunfo na manga, quase pronto a ser jogado.
- Que truque?
- Verás quando for terminado.
- És um cortes.
- Sou? - Jace finalmente sorri, um frágil e momentâneo sorriso. - Estou a espera que sejas sincero, Diablo...
- Que queres dizer com isso?
- Podias ter-me pedido ajuda com contas ao telefone.
Diablo fica calado durante alguns minutos. Sente-se dividido, preso entre a lealdade a Jace e a preocupação com este. Jace descobriu rapidamente que havia um motivo oculto para este encontro. Diablo está genuinamente preocupado, e não é o único. Apesar de saber que Jace se tem encontrado com Vânia, apercebeu-se pela conversa que esta não é um envolvimento romântico. Manos. Almas gémeas. Diablo tem noção de que Vânia tem algumas ligações ocultas, e pela conversa de Jace, eles aliaram esforços. Não é esse o motivo da preocupação de Diablo. Jace sabe cuidar de si e escolher quem o rodeia. Mas Diablo suspeita que Jace está a sofrer em silêncio. Jace tem pouquíssimos amigos, e Diablo é o mais antigo deles. Diablo é também o único a conhecer a verdadeira razão porque Jace deixou o sul e veio para a capital, e teme que este esteja a beira de um novo esgotamento. Se tal acontecer, Jace será apanhado, a sua rede desmantelada, e a liberdade de Jace desaparecerá. A preocupação levou Diablo a contactar David. Ao fazê-lo, descobriu que Jace não dava noticias há quase dois meses. David pediu-lhe para tentar descobrir qualquer coisa. Fosse o que fosse. Se Jace estava mal, David queria saber, ajudar. Mas não o podia fazer sem saber ao certo o que se passava com o seu filho. Diablo tentou tranquilizá-lo, dizendo que Jace deveria estar simplesmente cansado com demasiado trabalho, e ambos sabiam bem o quão obsessivo e perfeccionista Jace se podia tornar. Ainda assim, prometeu a David que falaria com ele. Mas agora, frente a frente com Jace, Diablo não sabe como começar a conversa que precisa ter com Jace.
- Jace, estamos preocupados contigo.
- Estamos? Quem?
- Eu.
- E mais quem?
Diablo não consegue responder.
- Falaste com o meu pai, não foi?
- Falei.
- Foda-se Diablo! Eu estou bem, não têm nada que se preocupar.
- Jace, 'tás com cara de quem não dorme há dias, ninguém sabe nada do que se passa contigo. Foda-se, nem em mim confias para desabafar já. Nós gostamos de ti, Jace. Preocupamo-nos contigo.
- Eu também gosto de vocês. Mas que raio queres que eu lhe diga? Estou prestes a concluir o projecto. Estou pouco a pouco a tomar as rédeas desta cidade. O meu isolamento é uma necessidade, Diablo.
- Necessidade porquê? És teimoso que nem uma mula. Achas mesmo que o teu pai vai pensar menos de ti?
- Há muito que o desiludi. Há muito que não mereço a confiança dele, ou a preocupação, ou o amor. Eu sou um falhado aos olhos dele, uma decepção. Ele deu-me tudo para ser um profissional de topo e para ser o orgulho da família, e eu peguei nisso e atirei tudo fora.
- Merda Jace. Tu conseguiste mais na tua idade que muitos conseguirão numa vida.
- A que preço? Não consigo olhar o resto da família nos olhos. Não mereço a vossa preocupação, o vosso amor, ou a vossa confiança.
- Jace... somos a tua família. Queremos ajudar-te. Podemos ajudar-te se nos deixares.
Jace levanta-se, vira as costas a Diablo.
- É melhor assim. Estou a proteger-vos do que me tornei.
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